Jaime Lopez
Para
mim a primeira impressão é muito importante. Transporto para o papel os
pensamentos e o estado de espírito que me assaltam no momento, para que cada um
depois, veja e sinta o que certamente será muito diferente do que eu senti ao desenhar
e isso é que é Belo!
(Jaime Lopez, Odivelas, 21 de
Setembro de 2012)
Quem
diz papel, diz uma parede. No Centro de Exposições de Odivelas, ao preparar a
Inauguração da Exposição Na ponta dos
Dedos, Jaime Lopez pintava, substituindo a caneta pelo pincel num impulso
único, sem emendas, sem rascunhos, sem preocupações com o efémero, visto que a
obra será «apagada» porque o suporte não foi previsto para comportar uma peça
artística…. É apenas… uma parede de alvenaria branca! No meio de uma conversa amena
e um pincel molhado de tinta preta, as figuras foram surgindo em linhas
sinuosas plenas de movimento, contrariando a rigidez e a frieza da parede
branca. De súbito ficamos na dúvida se a obra a expor será aquela, ou os
quadros dos guardanapos? Sem dúvida, ambas! Mas a “alma” por trás dos desenhos
nos guardanapos está ali, à minha frente, só que em vez do guardanapo pequeno,
uma parede grande e o Jaime, vai desenhando. «Rápido, penso eu, tenho de
registar…» e agarro no telemóvel para gravar da mesma forma, num impulso, sem
rascunho, sem premeditação!
O objeto altera-se, mas a função mantém-se!
A
Arte é uma criação humana com valores estéticos, procurando quer a beleza, quer
o equilíbrio a harmonia ou a revolta, sintetizando o artista dessa forma as
suas emoções, a sua história de vida, os seus sentimentos e a sua cultura.
Nela
o homem utiliza todo um conjunto de processos para realizar as suas obras, onde
aplica os conhecimentos da sua época histórica, sob as mais variadas formas,
aplicadas às formas de receção sensorial do “outro”, tais como a plástica, a
música, o teatro, a dança etc. As diferentes formas de receção sensorial podem
ser isoladas, ou mistas (como o caso das artes performativas e recentemente na
história humana o cinema, denominado comumente como a sétima arte). Atualmente
alguns tipos de arte permitem uma interação com o público, tornando-o
participativo na obra.
Desde
os primórdios da Humanidade que o homem começou por criar objetos para suprir
as suas necessidades práticas, como as ferramentas para a agricultura, a caça,
as armas para a guerra ou os utensílios para preparar os alimentos. São
chamados os objetos utilitários. Nesses mesmos objetos utilitários e nas
habitações, que desde cedo a arte começou a manifestar-se num contexto de função
essencialmente decorativa. A sua génese está ligada a esse objeto e foi a
pensar nele e na sua utilização, que ela tomou forma.
Outras
peças de arte assumem uma função de comunicação; simbólica (pessoal ou de
grupo), de crença (arte sacra), de conhecimento, ou de pensamento. A Arte
poderá ter uma função específica ou utilitária, ou ser apenas produzida como
Arte pela Arte, cuja apreciação/interpretação dependerá da experiência pessoal
e enculturação, estado psíquico e imaginação do público e daquilo que o artista
pretende transmitir, fruto também de uma multiplicidade de fatores igualmente
complexa como a do público.
O
Homem das gravuras e pinturas rupestres representava animais e figuras antropomórficas,
de noite à luz de archotes enquanto o sono não vinha, representando caçadas,
transpondo para a pedra pensamentos, desejos e códigos, através de instrumentos
de pedra e vários pigmentos. Várias interpretações têm sido dadas às pinturas e
gravuras, mas hoje em dia muitos Arqueólogos e Antropólogos já põem a hipótese
de terem sido feitas por homens do grupo assumidos já na altura como artistas e
como tal muitas dessas representações serem tão-somente obras de Arte sem outra
função para além dessa.
Alguns milénios depois a função mantém-se, a
técnica muda, os materiais também, as finalidades multiplicam-se, mas mantém-se
algo de universal ao Homem, algo de comum que é transversal, a Arte pela Arte,
o ato criativo que consiste em transformar o pensamento imaterial de um ego
solitário para um plano material de apreensão coletiva, um novo imaterial
plural de múltipla interpretação subjetiva.
O
desenho em guardanapos de papel para Jaime Lopes representa o início da obra
artística, simboliza a sua primeira fase. Um painel de azulejo, uma peça de
cerâmica, uma escultura, começa sempre por um desenho, que Jaime Lopes foi
desafiado a incluir num projeto mais alargado. O desenho em guardanapo de
papel, como o primeiro suporte físico de criação artística, tem sido comum a
outros artistas como por exemplo Toulouse Lautrec ou mesmo Picasso cuja fama de
desenhar em toalhas e guardanapos de papel em cafés e restaurantes, para pagar
as suas contas, deu origem a diversas estórias supostamente verídicas, cuja
função serve apenas para legitimar a veracidade desse ato tão natural na
vivência cultural de um artista.
Uma
dessas estórias sobre Picasso e os guardanapos relata um episódio em que um
empregado de mesa terá reclamado pelo facto de um desenho não ter sido assinado
pelo pintor, ao que aquele terá respondido: "Estou a pagar o jantar, não a
comprar o restaurante!".
A
sociabilidade noturna tão comum no meio artístico, com a inevitável frequência
dos bares e cafés, conduz ao ter de rabiscar no momento “algo “, no primeiro
suporte que estiver à mão, para não perder a inspiração, o impulso artístico.
Quem
diz guardanapos de papel poderá dizer toalhas de mesa, bilhetes de autocarro ou
de comboio, lenços de papel ou um qualquer recibo.
No
Brasil, os ilustradores Cordeiro de Sá e Renato Andrade expuseram trabalhos também
em guardanapos de papel, pouco convencionais, como resultado de uma década de
amizade, na FNAC do Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto, em Agosto de 2011. A coleção
'Os Guardanapos' retratava cenas observadas pelos dois em bares da cidade, em
10 desenhos feitos em guardanapos e coloridos com molhos usuais em bares, tais como
mostarda e ketchup.
“Sempre
nos divertimos muito desenhando nos guardanapos e percebemos que muitos amigos
chegam a guardar essas pequenas obras com o mesmo respeito de uma tela de
galeria. Já era hora de darmos a elas o devido destaque”, comentava Renato.
A
exposição “Os Guardanapos” começou por ser uma brincadeira entre amigos mas
acabou por ganhar espaço nas redes sociais e conseguir patrocínios de várias
empresas.
O
suporte físico de uma peça artística é apenas uma parte da obra, um dos seus
componentes a juntar a tantos outros. Caberá ao artista optar por torna-lo ou
não parte integrante da essência da sua obra de arte. A meu ver, em “Na ponta
dos dedos”, Jaime Lopez pretende acima de tudo transmitir a ideia de “(…)primeira impressão(…)”do início de todo
um percurso criativo que quis também aliar à palavra, a uma primeira interpretação do outro gravado
também à mão no mesmo suporte (guardanapo) numa aliança de grafismos onde o
pensamento, o desenho e a palavra se enleiam e se confundem.
Jaime
Lopes personifica, quanto a mim, a multiplicidade de definições que o conceito
de Arte acarreta. Desde o desenho, pintura, escultura, azulejaria até à
cerâmica, Jaime Lopes percorre um largo espectro de manifestações das artes
plásticas. A sua arte poderá ser entendida como utilitária, decorativa ou
simplesmente…Arte. Arte porque na sua essência está sempre o impulso criador a
partir de um pensamento, um sentimento, um estado de espírito que não o permite
viver sem Criar! Não consegue viver sem produzir Arte!
Para
mim é isso que define um Artista.
Margarida
Moreira da Silva
Antropóloga
Foi um prazer e uma agradável surpresa ver o teu trabalho.
ResponderEliminarMuitos parabéns.
Continua, quero ver muito mais.
Um beijo
Leonor
Passei por aqui, via Isabel Camarinhas e adorei o seu trabalho. Muitos Parabéns.bjs
ResponderEliminarBoa tarde,
ResponderEliminarGostaria que entrasse em contacto comigo, o mais breve possível por favor. Tenho uma proposta para lhe fazer! Um abraço Guida